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Falar d’ O Forno sem antes falar da Pastelaria Lusa é impossível porque ambos têm origem na mesma família e no mesmo gosto pela doçaria, sucedendo-se um ao outro.

A Pastelaria Lusa ficava na Rua de Lisboa, hoje Rua Direita, lugar de encontro e cavaqueira a meio caminho para o Pátio da Alfândega a esticar as pernas e a ver o chegar ou partir dos barcos que iam ou vinham de Lisboa ou das ilhas. Algumas mesas com cadeiras, mais outras tantas num reservado dos fundos a que se acedia passando os balcões/vitrina cheios de frascos de guloseimas e travessas de bolos, enchidos e charcutaria, de onde comandava seu proprietário, Manuel Pereira da Costa, o Sr. Manuel da Lusa.

Manuel Pereira da Costa nasceu no Pico em 1910 e chega à Terceira com 11 anos, para trabalhar na loja de tecidos de um tio estabelecido com a “Loja do Pereira” nos números 105 a 107 da mesma rua. Depois de passar por outras lojas, só em 1942 se instala por conta própria em sociedade com o primo – Manuel Macedo Pereira – nos baixos da casa de habitação que antes fora do tio/pai entretanto falecido em 1937.

Dos tecidos à pastelaria, charcutaria e mercearias finas parece haver uma distância difícil de explicar, não fosse saber-se que as aptidões das mulheres da casa deram impulso decisivo à mudança de ramo. Tia e prima de Manuel Pereira da Costa, e ainda outra tia vinda do Pico, eram exímias cozinheiras experientes na arte da doçaria, de modo que garantiam o abastecimento de produtos de pastelaria diversa, doces, licores e charcutaria (paio e lombo assado). Mais tarde, também a criatividade de D. Germana, com quem casara, contribuiu para o requinte da doçaria e a gestão da rede de fornecedoras externas que ampliavam a oferta da loja e garantia algum suporte financeiro a um nicho da mão de obra feminina urbana local.

Foi em 1977 o fim da Lusa, substituída por uma boutique de pronto a vestir, mas décadas de saber confeiteiro e pasteleiro acumulado pesavam nas memórias (olfativas e gustativas) de todos de forma que Ana Maria Costa, a filha, retoma a tradição familiar abrindo uma nova padaria-pastelaria, desta vez com fabrico próprio. O Forno abriu portas e acendeu fogões na Rua de S. João em 1987 num espaço que já fazia parte da memória gastronómica da ilha – o popular restaurante Zé da Lata - e oferece-nos, desde então, uma janela que se abre, generosa e estrategicamente, para que todos possam apreciar as tentações que ali se fazem e de lá saem.

A oferta, além dos elaborados e personalizados bolos de aniversário e de casamento, e a grande diversidade de biscoitos e bolachas, centra-se na doçaria regional tradicional, sobretudo a que era produzida nas casas urbanas e burguesas da Angra oitocentista e de que são exemplo os Ladrilhos espanhóis, os Africanos, as Covilhetes de leite, os Rochedos, os Rebuçados de ovos ou as Cornucópias. Se bem que com inspiração na doçaria conventual (de que as produções dos conventos de S. Gonçalo e da Esperança eram referência) a doçaria terceirense assume um caráter cosmopolita ao integrar ingredientes como as especiarias e o mel de cana do Brasil, costume que lhe ficou da abundância que corria pela cidade quando os barcos das Índias aqui aportavam.

Os bolos Dona Amélia são, talvez, os doces de maior prestígio e mais conhecidos d’O Forno e a sua história é o resultado de todas estas tradições, daí que mereça ser contada.

Em 1901 o casal reinante em Portugal, D. Carlos e D. Amélia, realiza uma visita aos arquipélagos atlânticos, acontecimento que se revestiu de muita expetativa e entusiasmo. A preparação foi, no entanto, condicionada pela debilidade dos orçamentos públicos disponíveis de modo que as senhoras da elite angrense foram chamadas a colaborar na decoração de espaços e na preparação de eventos e menus, e é nesse contexto que se “inventa” um pequeno bolo enriquecido com mel de cana, canela e noz-moscada inspirado na doçaria cheia de especiarias que era habitual na ilha. Para homenagear a rainha, batizaram-no com o seu nome.

Da receita das senhoras Pereira e dos seus segredos, nasceu o bolo D. Amélia com a qual O Forno foi galardoado, em 2020, com o troféu “Cinco Estrelas Regiões”, sistema de avaliação de marcas e produtos que garante a qualidade das escolhas dos consumidores.



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