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Um dos passeios favoritos dos angrenses de meados do século XIX e das primeiras décadas do século XX era a ida até ao Livramento, no limite oriental da cidade.

As razões eram simples: o Livramento fora, antes, um convento, o convento franciscano de S. António dos Capuchos, e desde a sua extinção, em 1832, instalou-se-lhe, na cerca, o cemitério público, e no edifício, desde 1853, abriu portas o Asilo de Infância Desvalida. Para os alcançar, quem estava no centro da cidade tinha de percorrer a comprida Rua da Guarita, que desde 1910 também se chamou Rua 5 de Outubro por causa da revolução que pôs fim à monarquia, mas apesar da distância o passeio era aprazível porque muitos muros de quintas e quintais ladeavam a rua e em vários troços do caminho podia espraiar-se a vista pelos campos semeados de trigo até ao mar.

O movimento da rua era intenso, para a época, claro, porque por ali circulavam muitas carroças, carros de bois e gente a pé que se dirigiam, ou vinham, das freguesias rurais da zona oriental da ilha e que a Guarita, seguida do Largo de S. Bento, tornava acessíveis. Mas outro dos atrativos da rua residia no facto de por ali estarem instaladas muitas oficinas de olaria, com os seus mestres e aprendizes num vai-vem de colocar no exterior das lojas peças a secar no ladrilho dos passeios, e ainda outras indústrias, como a de laticínios ou a de curtumes, que faziam com que fornecedores, fregueses e curiosos também circulassem por ali.

Para completar o quadro importa esclarecer que o que agora conhecemos como o Largo dos Bombeiros, que em boa verdade se chama Praça Dr. Sousa Júnior, foi inaugurado em 1969 e só nessa altura passou a ser um espaço aberto e ajardinado. Antes, tinha sido o antigo edifício do convento das Capuchas que em 1847 fora requalificado em Cadeia Pública e em cuja cerca (ou seja, os quintais e jardins desse convento) foi instalada a primeira praça de touros da cidade – a Praça da Inveja- em 1850. Uns anos depois, em 1862, os aficionados encontraram melhor local para a realização de touradas de forma que a antiga praça de toiros deu lugar a uma praça do gado – a Praça de S. Sebastião – onde todas as manhãs toda a espécie de animais era reunida para exposição e venda.

E nas casas em frente, à mão de quem ia e vinha, subia ou descia, em trabalho ou a passeio, ou ia até à Praça está, estratégicamente colocada desde 1940, a Leitaria Sª Bárbara.

Nas leitarias vendia-se leite a copo, ou ao litro, e a sua existência começou a generalizar-se no príncipio do século XX, sucedendo, e rivalizando, com a venda ambulante quando eram os próprios animais (vacas, ovelhas ou cabras) ou carroças cheias de bilhas conduzidos por um pastor, que circulavam pela cidade e paravam à porta de quem os chamasse ou de quem já tinha a compra aprazada, ao mês.

A saúde e a higiéne públicas foram retirando os animais das ruas da cidade, e o conforto de ter leite fresco a qualquer hora foi atribuindo às leitarias o exclusivo da comercialização de leite sendo para isso necessário obter uma licença, razão pela qual, em 1960, a proprietária dessa altura, Conceição Capitão Pastor, obtem alvará de funcionamento para a Leitaria Sª Bárbara. Em 1963 o estabelecimento pertencia a José Estevam Gonçalves, mas desde 1972 está na família de João Teixeira Soares que, depois de alguns anos no Brasil primeiro a alugou e, depois, em 1980, comprou.

Revestida a azulejos brancos, para realçar a higiene e facilitar a limpeza, tal como muitas outras leitarias, a Sª Bárbara foi agregando outros tipos de produtos e de clientes a que a paragem de autocarros e urbanas próxima dava sentido, e por isso também se foi transformando em pastelaria, condição e designação que adquiriu em 1984.

Hoje a Pastelaria Sª Bárbara é gerida pela segunda e terceira gerações da família Soares e, tal como no passado, continua a servir, agora também com refeições, os que sobem e descem a Rua da Guarita desde as 6 da manhã até às 19horas, muito embora tenha perdido o nome que testemunhava a ruralidade que noutros tempos pincelava o centro da cidade.



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