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O que é agora uma rua pedonal, invadida pelas esplanadas dos cafés e pelos vasos de flores da loja “Do que eu gosto” era, dantes, uma via de circulação de carros de todos os tipos com lojas de ambos os lados, ao nível da rua, e casas de habitação, nos altos.

Não sendo uma das ruas centrais da cidade, a Rua da Palha segue a mesma orientação e simplicidade de traçado das que lhe ficam paralelas: nascendo na rua da Sé e seguindo sempre a direito na direção do mar. Alguns autores defendem que esta artéria desempenhava uma importante função já que ali estavam instaladas e concentradas as estrebarias e cocheiras da cidade e, pelo final do século XIX, as empresas de trens de aluguer, naturalmente, ainda, de hipomóveis, função esta que, talvez, explique o nome da rua - da Palha - porque, certamente, por ali devia haver muita.

A rua está situada na que se pensa ter sido a inicial área planeada da, então, vila de Angra e de onde há diversos elementos de construção recuperados que o testemunham. O primitivo edifício do atual n.º 83 era uma construção do século XVII, e corresponde ao estilo das que compunham esse primeiro cenário do casario de Angra e que deve ter dado lugar à reutilização de alguma pedra de outras edificações próximas já que o crescimento da própria cidade ia determinando a construção de casas maiores e mais altas.

A certeza desta datação vem dos elementos arquitetónicos que ainda podemos descobrir nas suas paredes e que foram postos a descoberto depois de, bastante danificado pelo sismo de 1980, o imóvel ter sido objeto de recuperação em 1999. Então, a opção arquitetónica passou por deixá-los expostos e integrados, dessa forma proporcionando o diálogo entre quem os vê e a memória mais antiga do passado da casa e da cidade que eles tão bem ilustram e representam.

Por essa razão, um passeio pela arquitetura antiga começa pela apreciação da fachada rasgada por vãos simétricos nos dois pisos e emoldurados com pedra à vista. Assim que damos uma volta pelo piso térreo da loja encontramos o grande arco que divide as salas de exposição, grossas portadas em madeira de cedro, ombreiras, vãos e arcos de portas em sólida pedra de cantaria com decoração lavrada, nichos de copeiras, um lintel de portal em estilo manuelino e um pequeno oratório que avistamos no primeiro piso e cuja presença alguns autores pensam justificar-se por ser casa de um Deão da Sé. Além disto, há também a existência de dois pátios interiores, lá atrás, em patamares e orientações diferentes e, agora, cheios de vasos de flores, trepadeiras e árvores envasadas, mas onde ainda vislumbramos a presença de um chafariz com o seu alçado alto de uma bica e um tanque retangular em pedra, equipamento de recolha e distribuição de água em que as casas angrenses eram pródigas e que permitia que, assim, os particulares dispusessem de água ao domicílio com fartura.

O atual proprietário conhece bem o espaço, arrendado à família no passado, e por isso ali passou muitas horas ficando-lhe lembrança da acanhada divisão interior e da acumulação de processos e papelada a que a função de solicitador do pai obrigava. Agora é uma requintada loja de artigos de decoração e há duas épocas particularmente relevantes no arranjo da Do que eu gosto: no Natal e no princípio da Primavera.

Na quadra do Natal o cuidado com a decoração e com a sua adequação à arquitetura interior é redobrada, e os clientes podem perder-se pelos cantos e recantos e descobrir, sempre, mais um acessório para a mesa, um arranjo de flores ou uma multidão de bolas, grinaldas e figurinhas fascinantes que cresce todos os anos: bailarinas, princesas em caixas de música, meninas-vaso que nos piscam o olho.

Na Primavera basta dar a curva, espreitando, vindos da Rua da Sé, para se começar a ver o garrido das muitas cores nos vasos de flores no passeio à frente da loja e começar a sonhar com canteiros e floreiras: amores-perfeitos, malmequeres, petúnias ou roseiras… Quais e de que cor comprar desta vez?



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