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Quem circule pela Praia da Vitória e desça a Rua Dr. Alexandre Ramos, vindo da Rua de Jesus e em direção ao mar, não pode deixar de reparar, no n.º 14-E, na Praia Ferragens: uma montra cheia de ferramentas e máquinas para todos os ofícios, acessórios e utensílios para reparações, limpezas e manutenção das casas de todos nós, além de apetrechos de cozinha. O interior parece uma bem recheada gruta de Aladino, pois além de tudo o que já vimos na montra ainda encontramos ferragens, materiais de construção e produtos químicos como o petróleo, a água-raz, as ceras ou os pigmentos, produtos que, há algum tempo atrás, encontrávamos nas lojas a que chamávamos drogaria, designação que, aliás, o atual proprietário gosta de assumir. Por estas razões, a Praia Ferragens é como uma espécie de drogaria ampliada e adequada aos tempos modernos, em que a especialização do comércio teve que dar lugar à diversificação da oferta de modo a satisfazer o tipo de necessidades e exigências dos atuais consumidores.

Apesar da aparência moderna da montra, a história da Praia Ferragens começou há já muito tempo, mesmo antes de ter esse nome, e podemos ver nela um exemplo da influência que os emigrantes, quando regressados, desempenhavam nas suas terras de origem sabendo-se que muito contribuíram para a terciarização da mão de obra local, para a introdução, ou o crescimento, do número de serviços e de tipos de comércio até aí inéditos em algumas cidades e vilas portuguesas de pequena dimensão.

No início, tratou-se, apenas, de uma oficina de carpintaria que funcionava nas traseiras da atual loja, onde agora é o armazém. A oficina foi montada, e pertenceu durante muito tempo, a Manuel Gonçalves Branco, iniciado nas artes da carpintaria pelo pai, Manuel Gonçalves Simões que fora emigrante no Brasil e, no regresso, tinha montado oficina no Porto Martins.

Manuel Branco dirigiu os destinos da empresa até 1960, quando decidiu constituir uma sociedade com Diogo Ávila e Adriano Pontes de que resultou a empresa que se designou por Branco, Ávila & Pontes, e que teve como primeiro funcionário o irmão, João Coelho Simões. É também então que a carpintaria deixa, definitivamente, de funcionar e o barracão onde estava instalada passa a ser o armazém. O resto do terreno deu lugar à construção do prédio que hoje existe, alinhado com as outras casas da rua, com loja nos baixos e casa de habitação no primeiro andar. Apesar de desativada, a carpintaria ainda foi a responsável pela execução de todo o mobiliário da nova loja: as estantes e vitrinas laterais, em madeira de roseira, e o balcão central cujo tampo, segundo a memória dos mais velhos, foi feito com a madeira de jacarandá de uma antiga caixa trazida do Brasil por Manuel Simões, em 1901.

Cerca de dez anos depois, o falecimento de um dos sócios determinou a dissolução da sociedade e deu lugar a uma sucessora, a empresa Os Ávila, constituída pelos dois sócios restantes. Muito embora o processo de transição a que foi obrigada tal não implicou o fecho da loja, nem a substituição dos funcionários como Luciano Mendes que tinha começado a trabalhar na loja no final da adolescência e foi, desde então, assistindo aos seus altos e baixos, ao aparecimento de concorrentes, ao desaparecimento dos americanos da Base das ruas da cidade e às variações do gosto dos clientes. Conhece o ramo melhor do que ninguém e garante que o produto de maior venda, atualmente, são as torneiras e as tubagens.

De funcionário passou a patrão visto que comprou a loja em 1999 e atualizou-lhe o nome para Praia Ferragens. No interior continua a ter o mobiliário que sempre a caracterizou, e que possui desde a fundação. A oferta de produtos e soluções é, cada vez, maior e mais diversificada e tudo o que é encomendado chega num instantinho, mas o que é sempre igual é a relação de proximidade com os clientes do pé da porta e a simpatia para com todos os que lá entram. Apesar dos mais de 60 anos da loja!

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