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A presença da família Simões em Angra recua à década de 1860 quando António Pedro Simões, um continental nascido na Ericeira em 1834 e desde cedo ligado ao mar, chega pela primeira vez à cidade como piloto do patacho Angrense, em 1863.
Depois disso, comandou outras embarcações em viagens para a Terra Nova, Lisboa, S. Miguel e Inglaterra até se associar ao comerciante angrense Basílio Ferreira Mendes na realização de carreiras regulares entre a Terceira e o Rio de Janeiro.
Acalmada a ânsia da vida marinheira António Pedro casa-se com a filha do antigo sócio e estabelece-se como comerciante na casa da rua Direita n.º 56, enquanto os barcos de que continuou a ser proprietário (o lugre Reys ou o Flor de Angra) realizavam viagens para Lisboa e Rio de Janeiro transportando passageiros e importando mercadorias como o sal e as madeiras, produtos que irão ser fundamentais para a prosperidade futura da casa comercial.

Na loja - comprida e fresca pela proximidade da Ribeira dos Moinhos que lhe corria no tardoz – armazenava-se o sal, e pela mesma época instalou uma serração num edifício um pouco mais abaixo da loja-sede, e que deve ter aí estado até cerca de 1890.
É nesse ano que a loja adquire a fisionomia e estrutura que hoje possui - ampla loja com grandes depósitos nas traseiras e dois andares superiores - no primeiro onde estava um pequeno escritório, à frente, e um granel cujo alçapão, no sobrado, comunicava com a loja, e o segundo para habitação -, enquanto a serração é transferida para junto do porto de forma a facilitar as manobras de desembarque de mercadorias.
Pela mesma altura foi adquirida uma comprida casa em frente da loja principal. Filhos e filhas de António Pedro habitarão nessa casa, enquanto os armazéns térreos que possui passarão a servir de armazém de tintas, ferragens, instrumentos de trabalho para a lavoura, vasilhame, sementes e bolbos, num lado, tal como ainda hoje podemos ver da rua, e no outro um depósito de vinho com dois grandes tonéis que, entretanto, foram retirados.
Falecido António Pedro Simões em 1903, sucede-lhe na direção e orientação da loja o filho mais velho, Basílio Mendes Simões, que constitui a Basílio Simões e Irmãos Lda.

A sólida construção da loja do Basílio Simões garantiu a sua resistência ao tempo e até mesmo ao sismo de 1980, ocasião em que não sofreu qualquer dano e manteve todo o seu mobiliário antigo em madeira de pinho resinoso (o balcão, as estantes e armários), lajes de pedra e ferro forjado.
Na fachada, ainda há as duas grossas portas de madeira e uma montra, encerradas diariamente com as mesmas trancas em ferro de há mais de 100 anos; e ao lado, duma pequena porta envidraçada ainda espreitamos a atividade do pequeno escritório anexo à loja, espaço que além de servir de acesso ao saguão e à escada para os pisos superiores, expõe testemunhos identitários da família e do estabelecimento - como a fotografia do fundador e objetos da sua vida ligada ao mar - e centralizava o contacto pessoal com os clientes e fornecedores e as transações cambiais a que a empresa também exercia.

Fortemente ancorada na importação e venda, por grosso e por atacado, de sal -bem fundamental na conservação de alimentos no tempo em que ainda não havia frigoríficos- a ação seguinte da empresa determinou a instalação de uma rede de armazéns localizados nas periferias da cidade de forma a facilitar o acesso de todas, e a todas, as freguesias da ilha: às do Oeste pelo armazém instalado na Rua de S. Pedro, às do Norte pelo da estrada do Lameirinho e às freguesias do Este pelo armazém do Largo de S. Bento, de todos o único edifício que já não existe, demolido na década de 1960 aquando do arranjo do largo.

A Basílio Simões e Irmãos Lda é uma sobrevivente dos modelos oitocentistas de famílias de comerciantes implantados em mercados locais e periféricos que souberam explorar e potenciar os recursos naturais locais e corresponder às necessidades do mercado local. Posicionou-se na principal rua da cidade, e distribuiu as suas dependências pelo território tornando-as úteis e acessíveis às populações, e ainda hoje quem é que consegue resistir, sem entrar, ao cheiro adocicado que se sente, e aos sacos de venda de grãos a granel que se veem, ao passar pela loja da Rua Direita?
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