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O que é, atualmente, o Largo Conde da Praia foi, primeiro, um amplo terreiro situado fora dos muros da vila. Para aí foi transferido, por volta de 1680, o Convento da Luz, retirado da sua primitiva implantação numa zona de beira-mar que, todos os anos, os temporais punham em perigo. Para todos, o novo sítio do convento deu nome ao terreiro, razão pela qual passou a ser conhecido como Terreiro da Luz e, depois, Largo da Luz.

O convento foi extinto em 1832, e o que dele resta foi convertido no Asilo de Mendicidade D. Pedro V em 1861 e o Largo também mudará de nome adotando o de Largo do Conde da Praia por volta de 1867 ou 1869, depois de se comemorarem os 40 anos do aniversário da batalha de 11 de agosto de 1828, batalha ganha pelos liberais na baía da Praia.

Entretanto, o crescimento da vila foi motivando o seu alargamento para oeste fazendo com que a rua principal, a Rua de Jesus, que terminava no Largo de Jesus, também acabasse por crescer e atingisse o antigo Largo da Luz, agora Largo do Conde da Praia. Enquanto rua de passagem obrigatória para todos os que, das freguesias rurais limítrofes, vinham à Praia, o comércio foi-se aqui instalando garantindo, não só, o fornecimento à população de bens de importação, mas também como espaço de escoamento para as produções locais trazidas pelos produtores rurais das imediações.

Francisco Augusto Martins foi um desses comerciantes que iniciou a sua atividade por volta das primeiras décadas do século XX. Como possuía terras de cultivo e vinhas no Porto Martins daí retirava produtos hortícolas e o vinho que começou a comercializar na pequena loja que abriu mesmo no fim da Rua de Jesus, na primeira casa junto ao Largo, loja a que deu o nome de Loja do Coração de Jesus talvez porque fosse devoto do Coração de Jesus, culto cuja difusão se acentuou desde 1860.

A loja era pequena, um balcão em madeira de pinho resinoso e algumas estantes/vitrinas em madeira de acácia que o próprio foi fazendo e onde se expunham os licores feitos na casa, as hortaliças que os agricultores vinham entregar ou trocar, os santos e materiais religiosos que os devotos iam pedindo, e todo o resto de bugigangas e utilidades que os fornecedores de Angra enviavam, semanalmente, numa carroça. Esta mercadoria mais não faz senão testemunhar a estreita relação do comércio da vila com os pequenos produtores agrícolas locais, e a dependência dos comerciantes praienses relativamente aos armazenistas de Angra que recebiam no único porto da ilha as mercadorias importadas do continente e de outras paragens.

Das duas portas para a rua, uma dava diretamente para a loja e a outra, fechada com a habitual porta de ripas em madeira que, ainda hoje, algumas casas da Praia possuem e permite o arejamento dos espaços, dava para um espaço interior, privado, com mesas e cadeiras onde a clientela masculina se sentava a bebericar uns copos e a falar das novidades.

O filho de Francisco Martins, de seu nome Francisco Brivaldo Diniz Martins, começou a ajudar na loja ainda não tinha 6 anos, e continuou sempre a fazê-lo, mesmo depois do falecimento do pai, em meados de 1970. Em 1998 o prédio foi vendido para instalação de um balcão bancário com a condição, porém, de os quintais das traseiras darem lugar à construção de uma nova loja agora virada para o Largo, paredes meias com o Lar D. Pedro V, estabelecimento que se manteve aberto até 2010, quando encerra devido à doença do proprietário.

Só em 2017 o afilhado /sobrinho Manuel Adriano Fagundes retoma o negócio, incentivado pela quantidade de produtos em stock onde se contavam muitos bens muito antigos como as imagens de santos de fábricas já extintas, a louça de vidro e esmalte que o revivalismo atual voltou a apreciar, e muitas outras bugigangas em baquelite e madeira que foram sendo acomodadas nas antigas estantes e armários, e em caixas de madeira de fornecedores que já ninguém conhece. Hoje, a loja do Coração de Jesus tem tudo isso e muito mais, vocacionando-se para produtos relacionados com a temática marítima a que a baía da cidade e a sua proximidade com o mar dão sentido.


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