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A esquina e o prédio ocupados pela Pastelaria Athanásio são, de há muito, espaços privilegiados na cidade. Não só porque ficam na rua principal, mas também porque são pouso de onde se pode ver tudo o que se desenrola no adro da Sé, na rua que lhe passa à frente, e ainda o que acontece nas imediações do Teatro Angrense em dias de festa ou de espetáculos em sessões noturnas ou matinées. É, por isso, lugar de eleição: um pé cá e outro lá, sempre em cima do acontecimento; e por isso mesmo foi “batizado” como o Canto do Athanásio.

Inicialmente, aquilo que são agora dois prédios distintos (o do canto e o ocupado pela pastelaria) era apenas um edifício de dois andares, e houve uma época em que nele estiveram instalados dois estabelecimentos comerciais distintos: no edifício de canto o Café Matezinho, montado por Mateus José da Rosa Júnior, e no outro, primeiro, a Farmácia Angrense, aberta a 31 de dezembro de 1919 sob a gerência do farmacêutico Miguel Maia que, dois anos depois, deu lugar à Pastelaria Athanásio. A pastelaria foi criada por Francisco Ávila de Vasconcelos, comerciante que já tinha uma outra loja na mesma rua, a Casa Havaneza, uns números mais abaixo. Por sua morte a pastelaria passou para o filho - o Atanásio - que lhe deu o nome que tem desde então e a expandiu acabando por integrar o espaço do Café Matezinho e a vocação de tertúlia tauromáquica que este mantinha.

Inúmeras fotografias dessa época mostram o exterior de ambos os espaços onde pode ver-se a animada e constante permanência de muito curiosos e frequentadores, à porta, vendo as vistas e, certamente, pondo em dia as conversas e os mexericos.

O estabelecimento especializou-se em doçaria regional (alfenim e pudins de fabrico próprio entre outros…) afamada na cidade e nas ilhas, mas o senhor Atanásio era homem de muitas frentes e por isso também ali se vendiam sementes de flores para jardim e legumes para a horta a 1$250réis o pacotinho, mercearias finas como as farinhas para caldos (araruta, tapioca, aveia…), azeitonas de Elvas e broas de pastelarias de Lisboa, manteiga sempre fresca da Ribeirinha e das Fontinhas, Corn Flakes e All Bran americanos a 7$500 réis o pacote, brinquedos e ornamentações para a árvore de natal. De tudo isto se fazia publicidade no panfleto anual O Guloso que o Athanásio publicava firme no seu posto de apresentar as melhores escolhas para bons, saborosos e baratos menus para a quadra natalícia.

Sendo ponto de encontro de entusiastas da tauromaquia e de setores da elite angrense, por esta altura também ali se vendiam bilhetes para as corridas de touros e faziam reservas para excursões, nomeadamente as que se organizaram em S. Miguel em 1937 e levaram, pela primeira vez, grupos de açorianos ao Santuário de Fátima.

Pelo final dos anos de 1950 a pastelaria passou para as mãos de um antigo empregado e gerente, José Gaspar de Lima, que a manteve até finais dos anos de 1970, altura em que passou para a família Toste Lourenço e foi então que o espaço voltou a ser dividido e, desde então, partilhado com uma agência de viagens.

As mudanças de proprietário não lhe apagaram o nome e a memória, nem a aposta nas especialidades da doçaria regional. Com os seus mais de 100 anos de atividade ininterrupta, e desde 2010 sob a gestão de Helena Martins, em 2016 a Pastelaria Athanásio integrou a coleção de selos que os CTT dedicaram aos cafés históricos portugueses, e em 2017 foi distinguida com a inclusão no Inventário Nacional dos Estabelecimentos de Interesse Histórico e Cultural ou Social Local, sendo um dos dois identificados na Região.

Hoje, a Pastelaria Athanázio prima pela carta de chás que apresenta, pelas especialidades de doçaria regional como o pudim do Conde da Praia, as Cornucópias ou as Donas Amélias, e pelas produções caseiras como o bolo de figo, as bolachas ou os chocolates. O reconhecimento enquanto espaço de bem receber culminou em 2018, com a atribuição da distinção de café histórico pela Associação Europeia de Cafés Históricos.

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